sexta-feira, 9 de março de 2012

Estudo sobre a vida de Davi - Parte II



antes leia - I Samuel 16.14-23 

A rebelião e a soberba de Saul lhe trouxeram conseqüências terríveis. Além de ter sido rejeitado por Deus, Saul perdeu a doce presença do Espírito Santo. A partir daquele instante, estando sem a cobertura protetora de Deus, Saul se tornou alvo da ação de espíritos malignos. A tormenta e a perturbação trazida por esses espíritos era tão terrível que as próprias pessoas que conviviam com Saul perceberam que havia algo errado. Por isso, percebendo o problema, essas pessoas recomendaram que ele procurasse alguém que pudesse ajudá-lo.

Contudo, essa passagem não dá respaldo à crença de que o Espírito Santo pode se retirar, hoje, das pessoas. Segundo a Bíblia, a história deve ser dividida em duas etapas distintas: o período antes da vinda de Jesus e o período depois de sua vinda. Antes de Jesus vir ao mundo, o Espírito Santo de Deus não habitava permanentemente nos homens. Ele ia e vinha de acordo com as necessidades do povo. Talvez o exemplo mais claro dessa realidade esteja na história de Sansão. Em Juízes 14.5,6 lemos que, em uma situação de perigo, o Espírito de Deus veio sobre Sansão e lhe deu forças; entretanto, passada essa situação, o Espírito Santo se retirou e só voltou em outro momento de necessidade. Isso pode também ser conferido em Juízes 14.19 e 15.14.

Depois da ressurreição de Jesus, ele enviou o Espírito Santo, que passou a morar de modo permanente nos cristãos (João 14.16,17). Assim, independentemente das circunstâncias ou situações, por mais graves ou pecaminosas que sejam, o Espírito Santo jamais se retirará do cristão verdadeiramente convertido. Esse é o mesmo ensinamento trazido por Paulo ao afirmar, em I Coríntios 6.19, que o nosso corpo é santuário do Espírito Santo, ou em Efésios 1.13, que nós fomos selados com o Espírito Santo. Contudo, o cristão pode entristecer o Espírito Santo, como está registrado em Efésios 4.30, ou apagar o Espírito Santo, como está escrito em I Tessalonicenses 5.19. Entristecer está relacionado à dor trazida por causa de comportamentos totalmente contrários àqueles esperados e encorajados pelo próprio Espírito Santo. Apagar está relacionado com a proibição de se exercer os dons do Espírito Santo na igreja, que no caso específico se referia ao dom de profecia. Aquele que proíbe o exercício dos dons espirituais está apagando o fogo do Espírito na vida da igreja.

Saul aceitou receber a ajuda sugerida por seus servos. Tão logo receberam o consentimento do rei, um deles sugeriu trazer Davi, dizendo que ele era alguém: “(...) que sabe tocar, que é forte e valente, homem de guerra, sisudo em palavras e de boa aparência; e o Senhor é com ele.” (I Samuel 16.18) Aceitando a sugestão, Saul mandou mensageiros que lhe trouxessem Davi para servir na corte. Ele seria o homem responsável por tocar harpa e para acalmar o rei. Na sua chegada, Davi foi muito bem recebido. A sua missão era atrair a presença de Deus, dedilhando a sua harpa e proclamando louvores. Sempre que um espírito maligno vinha sobre Saul, Davi começava a dedilhar a sua harpa. No momento em que ele começava a proclamar os louvores do Senhor, o espírito maligno se retirava. A música de Davi era poderosa para trazer libertação e paz ao coração de Saul.

Esse texto é bastante esclarecedor no que diz respeito à ação de espíritos malignos sobre as pessoas e também à libertação delas. Uma pessoa que não tem o Espírito Santo não pode libertar-se a si mesma, ainda que ela reconheça a sua situação de opressão e perceba a atuação de espíritos malignos na sua vida. Assim, ela precisa da ajuda de alguém que tenha o Espírito Santo. E a libertação pode acontecer quando aquele que tem o Espírito começa a proclamar os louvores do Senhor.

A palavra usada no hebraico para se referir à atuação dos espíritos malignos, nesse texto, é “ba’at”, que significa aterrorizar, trazer medo, causar aflição. Sendo um rei guerreiro, ele era um homem corajoso e ousado; contudo, por causa da opressão demoníaca, ele se tornou um homem medroso, aterrorizado e completamente aflito. E porque não tinha mais o Espírito Santo, ele não podia libertar-se a si mesmo. A sua força natural, seu conhecimento intelectual, seu poder financeiro, nada disso lhe conferia poder para derrotar aquele demônio. O homem pode fazer promessas, pode participar de rituais, pode gastar dinheiro com videntes; entretanto, jamais irá conseguir a libertação dos demônios por esses meios.

Então, a pessoa de Davi foi apresentada. O diferencial entre Davi e as demais pessoas não era a força, a sabedoria ou o dinheiro, mas a presença do Senhor. A expressão final do versículo 17, “e o Senhor é com ele”, é no hebraico a expressão “v’iavé imou”, que indica a proximidade do relacionamento entre Davi e o Senhor. Davi tinha um relacionamento muito próximo com Deus e, dirigido pelo Espírito Santo, era o instrumento de Deus para trazer libertação a Saul. O texto é bem claro ao nos mostrar que o espírito maligno se retirava de Saul quando Davi dedilhava a sua harpa. Por causa disso, Saul sentia alívio e se achava melhor.

A expressão “sentir alívio” é muito interessante. A tradução literal dessa expressão, “rawah”, é “ser largo”, “ser espaçoso”. É como se a pessoa estivesse em um lugar muito apertado, sentindo-se quase sem ar e, de repente, ela fosse tirada desse lugar e levada a um lugar espaçoso. Essa expressão descreve a sensação de liberdade, de alegria, de paz, de satisfação. Não que aqueles louvores, em si mesmos, tivessem algum poder sobre o espírito maligno; mas eles, entoados por Davi, tinham o poder de trazer a presença de Deus sobre aquele lugar. Isso é muito importante e deve ser esclarecido: músicas são apenas sons e não podem afastar espíritos malignos; letras são apenas símbolos e, por isso, não podem expulsá-los. Espíritos malignos só são expulsos em meio aos louvores quando esses conseguem atrair a presença de Deus – ou seja: espíritos malignos são expulsos pela presença de Deus.

O versículo 3 do Salmo 22 nos apresenta essa mesma idéia. Ele registra: “Contudo, tu és santo, entronizado entre os louvores de Israel.” Em primeiro lugar, Deus não é entronizado nos louvores de qualquer pessoa, mas no meio dos louvores do seu povo. Apenas aqueles que verdadeiramente pertencem a Deus podem entronizar Deus com seus louvores. Em segundo lugar, louvor, nesse texto, significa estar sincera e profundamente agradecido a Deus por tudo o que Ele é e faz, e não ficar repetindo palavras mecanicamente. Por fim, entronizar significa construir um trono para Deus se assentar. Assim, segundo o texto, quando o povo de Deus elogia e engrandece com sinceridade a Deus, esses louvores constroem um trono sobre o qual Deus vem e se assenta – ou se faz presente. Essa é a presença de Deus, que traz verdadeira libertação.


oremos...

continua na parte 3...