Embora a história bíblica do Êxodo, a
saída do povo judeu das terras egípcias, seja considerada inverossímil por
muitos historiadores, existem provas arqueológicas de que a terra dos cananeus
foi tomada pelos Israelitas por volta do XII século AEC.
Dessa tomada resultaram longos
períodos de guerras e batalhas entre os israelitas e os povos de Canaã. O livro
que relata esses conflitos é o Shoftim, nome hebraico do Livro dos Juízes do
Velho Testamento. Nele encontra-se também a história da juíza Débora,
figura marcante das Sagradas Escrituras. Os relatos bíblicos são cheios de
personagens interessantes, mas raramente destaca-se alguma mulher, estas
geralmente aparecem apenas como esposas dos patriarcas. Débora se apresenta de
forma singular e única por ter liderado corajosamente, uma revolta contra um
rei iníquo.
Os dados sobre ela são escassos,
sabe-se que vinha da tribo de Efraim e era esposa de Lapidote, mas não se diz
quando ganhou preeminência e tornou-se juíza entre os Israelitas.
O período dos juízes se deu antes de
se estabelecer a monarquia em Israel. Quando os judeus saíram do Egito, sob a
liderança de Moisés, este tomou sobre si a responsabilidade de orientar o povo
em todos os assuntos. As tribos dirigiam-se a ele levando suas questões e
dificuldades, na esperança de encontrar soluções. Mas o número de inquiridores
era incalculável e Moisés foi aconselhado por seu sogro a eleger pessoas
capazes para julgar Israel junto a ele (ler o post Jetro), o que veio a tornar-se uma tradição.
Quando os Israelitas chegaram em Canaã continuaram sob a liderança de outros
juízes. Além dos juízes haviam também os profetas e os Sacerdotes, sendo estes
últimos os principais na hierarquia. No caso de Débora, diz-se que era
juíza e também profeta. O texto sagrado relata que ela sentava-se embaixo das
palmeiras entre Ramá e Betel, e para ali o povo se dirigia em busca de
conselho.
Nos dias de Débora muitos israelitas
vinham sofrendo opressão sob as mãos do tirânico Jabim, rei de Hazor. A
profetiza foi incumbida por Deus da tarefa de defender o povo. Ela deveria
chamar a Barac, um comandante militar da tribo de Naftali, para liderar um
exército contra Sísara, capitão das tropas de Jabim.
O historiador judeu Flavio Josefo,
narra a batalha em sua História dos Hebreus:
“Débora, depois desse oráculo (a
tarefa que recebeu de Deus), ordenou a Baraque (Barac) que reunisse dez mil
homens e atacasse os inimigos, sendo suficiente esse pequeno número, pois Deus
prometia-lhes a vitória. Baraque respondeu-lhe que não podia aceitar o cargo se
ela não tomasse, com ele, o comando do exército. Ela, porém, respondeu-lhe
encolerizada: “Não tendes vergonha de ceder a uma mulher a honra que Deus se
digna fazer-vos? Eu, porém, não recuso recebê-la”. Reuniram assim dez mil
homens e foram acampar no monte Tabor. Sísera (Sísara), por ordem do rei seu
senhor, marchou para combatê-los e acampou próximo deles.
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Baraque e o resto dos israelitas,
espantados com a multidão dos inimigos, intentaram retirar-se e afastar-se
quanto possível. Mas Débora os deteve e ordenou-lhes que combatessem naquele
mesmo dia sem temer aquele grande exército, porque a vitória dependia de Deus,
e deviam confiar no seu auxílio.
Travou-se o combate. Nesse momento,
viu-se cair uma forte chuva com granizo. O vento impelia-a com tanta violência
contra o rosto dos cananeus que os arqueiros e fundibulários não se podiam
servir nem dos arcos nem das fundas, e os que estavam armados mais pesadamente
tampouco podiam usar as suas espadas, tão enregelados estavam pelo frio. Os
israelitas, ao contrário, tendo a tempestade pelas costas, não eram incomodados
por ela e ainda sentiam redobrada a coragem, vendo nela um sinal visível do
auxílio divino.
Assim, eles venceram e mataram um grande número de inimigos, restando
apenas um pequeno número, que pereceu sob as patas dos cavalos e as rodas dos
carros de seu próprio exército, o qual fugia em desordem.”
Barac aparece como um grande
comandante diante das forças de Jabim, derrotando completamente o exército
inimigo. Mas o texto bíblico e também Josefo destacam sua falta de fé e
coragem, pois recusou batalhar sem a companhia de Débora, em vista disso a
juíza disse “Certamente, irei contigo, porém não será tua a honra da investida
que empreendes; pois às mãos de uma mulher o Senhor entregará a Sísera.”.
Barac, apesar do sucesso de sua campanha, não foi capaz de alcançar Sísara.
Este abandonou seu carro de batalha e fugiu a pé até as terras de Héber, uma
parente distante de Moisés, que tinha tomado partido de Jabim. Lá esperava
encontrar refúgio mas foi recebido por Jael, esposa de Héber. A princípio ela o
acolheu bem, tendo sede, deu-lhe coalhada e depois deixou-o dormir em sua tenda
pois estava exausto. Enquanto dormia, Jael se muniu de uma estaca e martelo e
chegando-se a ele, fincou-lhe a estaca na testa até atravessar o crânio,
matando Sísara instantaneamente.
Não existe nenhum registro que
explique ou revele uma ligação entre Jael e Barac, nem mesmo à Débora. O mais
provável é que Jael, embora casada com Héber, fosse leal ao povo hebreu e viu em
suas mãos a chance de prestar grande auxílio a seus compatriotas.
Cumprira-se assim a profecia de
Débora, de que Sísara seria entregue nas mãos de uma mulher. Nesse episódio da
história do povo hebreu, Débora e Jael aparecem como grandes heroínas.
Josefo nos diz que após a morte de
Sísara, Barac continuou a avançar em direção a Jabim, sendo esse derrotado após
grande batalha.
A guerra dos Israelitas, sob comando
de Débora e Barac, contra Jabim pode ser lida nos capítulos 4 e 5 de Juízes,
sendo o primeiro capítulo em forma de prosa e o segundo na forma de um cântico
que ficou conhecido como Cântico de Débora, nele a juíza é alçada ao status de
“mãe” da nação. Este cântico é um dos exemplos mais antigos de poesia hebraica.
A Bíblia não fala nada sobre a vida de Débora após a batalha contra
Sísara. Josefo diz que Barac governou Israel, após destronar Jabim, por mais
quarenta anos, e acrescenta que Débora morreu quase na mesma época que Barac. É
possível então que Débora tenha vivido ainda durante muitos anos, e que tenha
continuado com sua tarefa de aconselhar e fazer juízo sobre o povo.
Fonte: Aqui.